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Considerações: O simbolismo da “Grande Mãe”

  • silviamhac6
  • 13 de out.
  • 3 min de leitura
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Existe um fator anímico autônomo, que escapa das manipulações da consciência. Essa chamada Ânima, designada por Jung como a parte feminina da psique do homem, representativa da “alma”. É um fenômeno empírico historicamente encontrado nas sizígias divinas, nos pares masculinos e femininos - algo que se encontra em mitologias mais antigas, no gnosticismo e em filosofia chinesa, como o par cosmogônico do Yin (feminino) e Yang (masculino). Jung afirma que elas são universais, como a existência homem e mulher.

            O binarismo junguiano anda sendo reavaliado por pensadores que desenvolvem suas ideias, principalmente ao que se refere as questões de gênero atuais. Hoje, as reflexões se aproximam em os opostos presentes na psique de ânima e animus serem os arquétipos da oposição internos em ambos os gêneros. Mas voltando-me mais aos princípios formulados por Jung, a ânima (no homem) e o ânimus (na mulher) seriam basicamente então imagens parentais projetados em objetos externos.

            Alguém pode até acreditar que não possui ideias religiosas, mas sendo essa pessoa inserida na humanidade com certeza existe uma representação coletiva dominante. De alguma forma as pessoas são possuídas por alguma ideia supraordenada.

            Como as imagens parentais influenciam nos fenômenos das experiências religiosas é um assunto peculiar, e que exige um conhecimento em detalhes de como isso acontece na pessoa. Mas Jung afirma que há ideias teístas associadas a essas imagens inconscientes, para a maioria delas.

            Acontece de a imagem divina para místicos aparecerem ora como “pai majestoso”, ora como “mãe majestosa”. Uma representação esta bem pouco ortodoxa possível, visto que a Igreja eliminou o elemento feminino da Trindade, por ser herético. Já os Gnósticos (religiosidade cristã considerada herege pela Igreja Católica, que se baseava no conhecimento de si mesmo) consideravam o Espírito Santo como Sofia, menina e materna, representando intuitivamente o elemento feminino na trindade, algo de natureza arquetípica.

            Pois bem, o símbolo da Deusa-Mãe ou Grande-Mãe é um derivado do arquétipo materno. Arquétipo é uma expressão já presente na antiguidade que se referia a “ideia” no sentido platônico, algo que é uma entidade e não só nomina, que institivamente pré-formam e influenciam pensar, agir, sentir. Essa imagem primordial é preenchida, então, com elemento de experiência consciente.

            Assim, o arquétipo materno (muitas vezes representados pela mãe, avó, madrasta, sogra, ama de leite etc.), em uma transferência mais elevada, pode ser uma deusa, especialmente a mãe de Deus, a Virgem, Sofia, Kali e outras simbologias divinas ligadas à outras culturas; assim como a água, a árvore da vida, a cidade, a própria Igreja e à Natureza. Além de sentidos negativos, como bruxas, dragão, túmulo e a morte.

            Segundo Jung, seus atributos seriam ligados à “mágica autoridade do feminino; a sabedoria e a elevação espiritual além da razão; o bondoso, o que cuida, o que sustenta, o que proporciona as condições de crescimento, fertilidade e alimento; o lugar de transformação mágica, do renascimento; o instinto e o impulso favoráveis; o secreto, o oculto, o obscuro, o abissal e fatal” (JUNG, 2013, § 158), representantes da mãe amorosa e a mãe terrível.

             Visto isso, na própria Bíblia, em se tratando do sentido cristão, Jesus impõe a Nicodemus que “não pense de modo carnal, pois então será carne, mas pensa simbolicamente e então será espírito” (JUNG, 1986, § 335).

            A verdade psicológica não exclui a verdade metafísica, mesmo a ciência da psicologia tendo que se abster de verdades metafísicas. Mas Jung ainda afirma que que o mito religioso dá força ao homem para não ser esmagado pela imensidão do Universo. O símbolo pode não ser uma verdade concreta, realistamente falando, mas é psicologicamente verdadeiro.

 

JUNG, C. G. Símbolos da Transformação. Rio de Janeiro: Editora Vozes. Obras Completas Vol. V, 4ª. ed, 1986.

JUNG, C. G. Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo. Rio de Janeiro: Editora Vozes. Obras Completas Vol. IX. 11ª. ed., 2013.


Imagem: "Vênus de Willendorf", estatueta produzida no período Paleolítico Superior.

 
 
 

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